Fobia de Elevador - Caso Flor
Criança com nove anos de idade.
Cliente residente no interior.
• Casal chegou acompanhado da cliente (a filha de nove anos de idade). Após as apresentações naturais do primeiro encontro, sugeri conversar primeiro com o casal, enquanto Flor ficaria aguardando sua vez de ser atendida na sala de espera.
• A criança concordou demonstrando tranquilidade. Falei para ela que seriam trinta minutos. Depois seria a vez dos pais aguardarem por ela.
Pai - O nosso problema é que Flor tem muito medo de elevador e não estamos sabendo convencê-la de que não existe perigo. Fiquei sabendo que a hipnose resolve estes casos. (O pai já tinha notícia de um profissional do Rio de Janeiro que atendia com hipnose. Quando soube deste atendimento também em Belo Horizonte interessou-se por ser mais perto e pela possibilidade de resolver o problema. Flor tem medo de andar de elevador, só aceitando esta possibilidade acompanhada da mãe ou do pai.)
Terapeuta - Vocês sabem que o sintoma é um sinal ou alguma mensagem?
Pai - Acho que sim.
Mãe - Nós somos muito preocupados e acho que Flor pode esta querendo chamar a atenção.
T - Chamar atenção...
Mãe - Nos ocupar com ela.
T - É possível. Quando Flor só entra no elevador com um de vocês dois, que mensagem o comportamento dela está querendo dizer?
Mãe - Ela parece que quer nossa presença.
Pai - O nosso final de semana é muito voltado para a família.
T- A que você se refere quando diz que no final de semana vocês estão voltados para a família.
Pai - É que mesmo quando preciso resolver algo na fazenda, vamos os três juntos ou algum outro lugar, casa da mãe, da sogra...
T- Vocês acham que dá para descrever um dia da semana de vocês?
Mãe- Saímos cedo e raramente um de nós dois almoça em casa. Mais á noite sempre estou em casa.
Pai - É acho que Florzinha tem ficado durante o dia muito sozinha. Mas temos que trabalhar e ela é uma menina muito viva e madura para a idade.
T- Como ela está se saindo na escola?
Pai - Bem, ela tem muita facilidade de aprendizagem.
Mãe - Ela é muito responsável e está também interessada em resolver o problema porque quando saímos para trabalhar ela vai ficar em casa sem poder sair até para o play - ground do prédio.
T - O que vocês acham que ela espera do atendimento comigo?
Pai- Ela está um pouco ansiosa e eu muito.
T - Como assim?
Pai - não sei explicar mas a situação me deixa muito preocupado.
T - Preocupado...(fico olhando para ele)
Pai - é... acho que a situação é um pouco difícil para ela.
Mãe - Eu acho que ela espera uma mágica.
T - Como você sabe que ela espera uma mágica?
Mãe- É que ela comentou que tem tanto medo que só uma mágica fará ela andar de elevador.
T - E vocês, o que esperam?
Pai- Bem gostaria de saber de quantas sessões que você acha que vai ser preciso, se poderá ser sempre aos sábados, pelo problema de morarmos fora.
T - Bem ouvi um pouco vocês e agora devo demorar mais ou menos uma hora com Flor e depois de ouvi-la posso responder esta pergunta de vocês. Está bem assim?
Pai e Mãe – Tudo bem...
T - Levou-os até a sala de espera, onde estava Flor com algumas revistas em quadrinhos, assentada perto do aquário.
O pai se despediu e a mãe ia ficar na sala de espera.
T - Entrou com Flor. Flor acompanhou notadamente com disposição na maneira de andar e, ao entrar na sala, olhou-a toda em volta, assentando-se no sofá.
T - Puxou uma das cadeiras falando que ia sentar mais próximo dela. Flor sorriu e ficou olhando para a
Terapeuta.
T - Já conversei com seus pais sobre o motivo que lhe traz aqui, agora preciso saber como é para você esse motivo .
Flor - (Sorriu) - Bem... eles devem ter falado que tenho muito medo de andar de elevador (estremeceu o corpo).
T - Como é este medo
Flor - Quando penso no elevador, vejo umas estrelinhas.
T - E quando está dentro dele?
Flor - Sinto muita aflição porque não poso descer a hora que quiser, tenho que esperar.
T - Há!.. então o medo não é do elevador ? É de ter que esperar o elevador parar?
Flor - É
T - Em que outras situações você tem que esperar e você sente mais ou menos igual?
Flor – No aviãozinho do parque. Eu também não quero rodar porque demora para parar e eu fico com muito medo.
T- Existe algum outro brinquedo do parque que você gosta de brincar?
Flor - Adoro tromba – tromba, e lá eu espero a hora de descer.
T - O que o tromba - tromba tem diferente do elevador e do aviãozinho?
Flor - É que lá me divirto muito.
T - Além do tromba - tromba, o que mais te diverte?
Flor - Assistir desenho do Garfield.
T- Entre o brinquedo do parque e o desenho , o que é mais divertido?
Flor - O Garfield. Posso desenhar ele para você ver ?
(Desenhou várias vezes porque achava que não tinha ficado muito bom. E contou que assiste no canal 33 da TV à cabo todos os dias, completando: “é muito divertido”. Quando terminou entregou para a Terapeuta um dos desenhos e voltou para o sofá).
T - Obrigada. Você sabe que trabalho com hipnose ?
Flor – Sei.
T - O que você acha que vai acontecer?
Flor - Acho que vou dormir e sonhar.
T - É mais ou menos isso mesmo, é como se fosse um sonho acordado, parte de você sonha enquanto parte de você me ouve.
Flor - Então vai ser mesmo uma mágica.
T - Você já experimentou ver a imagem do Garfield de olhos fechados? (balançou a cabeça que não).
T - Quer experimentar? Feche os olhos. (Flor fechou os olhos e, de repente, os abriu e muito admirada falou: “vi , eu vi o Garfield igual no desenho”).
T - É isso mesmo, você vai poder lembrar do Garfield e imaginar que está passeando com ele no parque.
F (fechou os olhos e logo disse) : Estou com medo, não estou sentindo minhas pernas.
T - Você sente suas pernas quando dorme? É como se estivesse dormindo e ao mesmo tempo me ouvindo. (Flor assentiu com a cabeça)
T - Sempre que a imagem aparecer, você pode dar um sinal com o dedo indicador da mão direita e quando não houver imagem você pode dar um sinal com o dedo indicador da mão esquerda.... e agora você pode se imaginar passeando com o Garfield vendo outras crianças brincando e se divertindo. (Flor sinalizou que não e logo depois que sim)
T- Agora o parque tem um elevador e você e o Garfield vão observar as crianças se divertindo, subindo e descendo de elevador... agora você vai se divertir junto com o Garfield no elevador (Neste momento, Flor começou a pressionar a almofada ao lado com as pontas dos dedos num movimento irregular), agora você vai observar o Garfield andar sozinho de elevador, se divertindo... isso... e agora o Garfield vai... ( socorro, bem abafado ) vai observar você andar de elevador sentindo-se bem e se divertindo. (Quando T terminou a frase, seu rosto ficou novamente iluminado e parecia bem. Seus olhos apresentavam movimento do globo.)
T - Isso...
Flor- (abrindo os olhos) - Fui à casa de minha avó buscar um livro e subi sozinha no elevador e desci (não fez referência ao pedido de socorro).
T - Você acha que dá para falar como foi sua experiência com o Garfield e depois sozinha?
Flor – hum, hum, hum, eu passeei com três gatos no parque.
T - Três...
Flor - É, três Garfields, mas no elevador só tinha um Garfield e eu estava fazendo cócegas na barriga dele.
T - há, há...
Flor - Foi divertido, daí fui buscar o livro na casa da minha avó sozinha (expressão séria no rosto).
T - E agora dá para fechar os olhos e lembrar do elevador para sentir como isso está sendo para você agora?
Flor - Sim... (de olhos fechados)...(e abrindo os olhos, muito séria, levantou-se, dando dois passos para a frente)...Sabe o que é Léa? Uma parte de mim quer andar de elevador, uma outra acha que ainda não quer...(assentou-se).
T - Muito bem, ponha as duas mãos nesta posição (as mãos espalmadas para cima na altura do busto). Qual das duas será sua parte que quer andar de elevador?
Flor - A direita.
T - A esquerda pode ser a outra parte que ainda não quer?
Flor assentiu com a cabeça.
T - Muito bem, agora feche os olhos e vamos ver o que vai acontecer com suas mãos.
Flor – Minha mão movimentou sozinha!...
T - Elas se juntaram?
Flor (abrindo os olhos) - Não, a esquerda veio para onde estava a mão direita.
T - O que isso quer dizer (fazendo um movimento com a mão)?
Flor – Que a outra parte também quer andar de elevador.
T - Muito bem... embora você não tenha nenhuma obrigação de andar sozinha de elevador, pode ser bom,
divertido e você pode fazer isto quando quiser, se achar necessário, como qualquer outra criança de sua idade.
Flor - Mas eu quero. Posso ir à casa da minha avó sempre que quiser.
T - Você gostaria de falar mais alguma coisa antes de terminarmos?
Flor - Não.
T - OK. Então, feche os olhos por alguns momentos... respire fundo... todo aprendizado que possa ter ocorrido aqui e lá fora podem ser guardados na sua consciência mais profunda... onde estão guardados outros aprendizados como o andar, o escrever... que você usa sempre que necessário, até mesmo sem perceber....
Flor - (abriu os olhos com um sorriso)
T - (levantou-se e foi com Flor até a sala de espera onde estava sua mãe que se levantou e veio ao encontro das duas)
Mãe - E aí, quantas sessões ela vai precisar?
T - Ela? Só essa. Gostaria de marcar um horário para você e seu marido. Está bem assim? (o horário foi marcado).
Marcou-se para o sábado seguinte e, um dia antes, o horário foi adiado para o outro sábado, quinze dias após a sessão de Flor.
Na Quarta-feira da primeira semana após o seu atendimento, Flor telefonou para dizer que estava andando de elevador como as outras crianças.
T - Muito bem, você está de parabéns.
No dia marcado os pais compareceram.
Mãe - É... Flor está mudada, mas acho que o pai ficou mais satisfeito do que ela.
Pai - O caso é que fiquei surpreso. Realmente tinha minhas dúvidas.
T - Dúvidas?
Pai - Não esperava que funcionasse com Flor tão depressa.
T - É, às vezes os filhos podem surpreender.
Mãe - Quanto ao que ela estava querendo com o sintoma, acho que você tem razão, ela estava mesmo era precisando da nossa presença durante o dia.
T - Hum... como estão sendo essas idéias para vocês?
Pai- Pensamos como fazer para que um ou outro esteja na hora do almoço.-
Mãe - Flor descobriu aqui com você, não foi? Que o medo não era do elevador.
T - E de que era o medo?
Mãe - Ela me falou esto na hora do almoço e eu não tive tempo para continuar a conversa. É tudo tão corrido.
0 atendimento com os pais, continuou por mais duas sessões. Foram exploradas as observações sobre o relacionamento familiar.
Léa Machado